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Os "Chirp
Sounders" e o projeto de G3PLX.
Além de
conhecido como o "pai" do PSK31, Mr. Peter desenvolve outros projetos.
Tive a felicidade de participar, timidamente, na primeira fase de um deles.
Infelizmente o tempo escasso não permitiu maior dedicação mas foi suficiente
para aprender mais um pouco.
Tudo começa na
implementação de uma ferramenta capaz de detetar as pequenas variações de
frequência impostas às portadoras por objetos móveis – aviões, meteoritos,
satélites, etc – e então estimar sua velocidade, distância, altura e assim
por diante. Todos nós estamos habituados a perceber "de ouvido" a
variação em amplitude causada em um sinal quando da passagem de um avião.
Este efeito é muito mais notado em VHF mas acontece também em HF. Tal qual um
radar de efeito Doppler, além do sinal principal temos um sinal refletido, com
frequência diferente do original e proporcional à velocidade do objeto.
Porém esta
ferramenta, que usa um receptor de HF e um PC com placa de som, é interessante
para a monitoração de meteoros, satélites e aviões. É capaz de mostrar
aquilo que acontece no domínio da frequência.
Quem de nós já
não escutou algum sinal que parece um VFO passeando frequência acima nas
faixas de HF? Este sinal gera no nosso receptor um tom de áudio que vai de 300
a 2400Hz em uns poucos milésimos de segundo. Pois bem: nunca nos preocupamos em
medir o tempo entre estes sinais. E se o fizéssemos, constataríamos que eles são
cíclicos, com períodos que podem ser de 300, 450, 600, 900 ou 1800 segundos.
Estes chirps
originam-se, na verdade, em várias partes do mundo. São transmissores de 50
watts em média, que varrem o espectro de HF – de 3 a 30 MHz – numa taxa de
100KHz/s. Esta rede de transmissores está acompanhada por diversas estações
de monitoração que sintonizam a mesma porção do espectro na mesma taxa. Ora,
se um receptor varia a sua frequência sincronizado com um destes transmissores,
podemos traçar um gráfico frequência X amplitude, de 3 a 30MHz. Além disso,
a frequência do sinal recebido pode alterar levemente dependendo da altura das
camadas da ionosfera. Assim, não só a intensidade, mas temos como estimar
quantos "saltos" um determinado sinal deu e qual modo de propagação
adotou (2F2, E-F2, F1F2, etc) e de carona, se pelo short ou long path, com uma
ou mais voltas no planeta.
Esta rede de
transmissores é "pública" e usada por diversos órgãos e institutos
para mapear a ionosfera em tempo real. Nos moldes dos beacons da IARU, que nos
permitem saber para onde está aberta a propagação, esta outra rede permite,
além da constatação, a medida da intensidade e do tempo. Desta forma, o
projeto de G3PLX é um arranjo muito inteligente que permite o uso de um
receptor de SSB convencional, em uma frequência fixa, e um hardware + software
para a monitoração destes beacons. Temos assim um sistema que permite a
qualquer pessoa com interesse no assunto propagação em HF em monitorar em
tempo real o seu estado.
Mr. Peter
implementou um filtro de áudio com 66Hz de largura mas capaz de varrer de 20 a
3000Hz numa taxa de 100KHz/s. Apesar de estreito, este filtro tem uma resolução
de 0.66ms para pulsos.
Cada chirp
sounder tem um ciclo de trabalho muito preciso e inicia a sua varredura
sempre há alguns milésimos de segundo após as 00:00 UTC. Um exemplo:
TX Lat/Lon
Ciclo UTC+
Svalbard
78N/14E 300 s 22ms
Gibraltar 36N/05W 300 s 70ms
Inskip 54N/03W 300 s 78ms
Falklands 52S/59W 300 s 234ms
Cyprus 35N/34E 300 s 250ms
A maioria
destes transmissores está sincronizada a um GPS. Desta forma, podemos também
sincronizar o filtro em questão à esta mesma referência, disponível
mundialmente. Além disso, somente um chirp acontecerá no mesmo espaço dos
poucos milésimos de segundo quando o filtro varre o espectro de áudio de 20 a
3000Hz. O software "sabe" qual período de tempo ele está varrendo e,
havendo um sinal naquele instante, é calculado e registrado qual dos chirp
sounders foi recebido.
Paralelamente,
sabemos que qualquer sinal transmitido leva um certo tempo para ir de um ponto a
outro. Mesmo que este tempo seja de alguns milésimos de segundo, ou menos.
Um sinal de RF
leva 138ms em média para dar uma volta no planeta. De Chipre até São Paulo
ele gasta em torno de 35ms. O software tem resolução de 125us. Então:
300000Km = 1s.
x Km = 0.000125s
x = 300000 *
0.000125 = 37.5Km
Se lembrarmos
que além da distância entre estes dois pontos temos todos os saltos entre a
terra e a ionosfera, é fácil de supor que dependendo do número de saltos este
tempo de 35ms vai mudar.
Então medindo
estas variáveis podemos saber, em tempo real, qual estação foi recebida,
quantos saltos foram dados, se pelo short ou long path, qual a intensidade do
sinal, etc etc.
Esta versão de
software está implementado para uma plataforma de desenvolvimento da Motorola,
DSP56002EVM. É um acessório que além de um chipset de áudio muito parecido
com uma placa de som de PC tem um DSP e memória própria. Fica conectado a um
PC pela porta serial. Há uma versão que usa a placa de som do PC, tal e qual
aconteceu com vários modos digitais que temos hoje disponíveis, entre eles o
PSK31, FeldHell e outros. Observem a figura abaixo:
É uma amostra
de parte da tela do software em questão. Nele podemos observar o período, qual
estação, horários iniciais e finais e quantas vezes o sinal foi recebido.
Sublinhei 3 estações para facilitar o entendimento.
A primeira tem
um ciclo de 300s (5 minutos) e inicia sua transmissão a 78ms depois das 00:00
UTC em "zero MHz". Foi recebida pela primeira vez às 22:08 e pela última
vez às 02:28 UTC, 42 vezes.
Observe que o número
registrado – 78,03391 – é uma média destas 42 vezes. Há um log paralelo
que guarda estas 42 medidas, com suas pequenas variações. De qualquer modo, 78
nos diz – por consulta a uma tabela – que se trata da estação localizada
em 54N/03W (Inskip, Inglaterra). O restante deste número – 0,03391 – é o
tempo em segundos que o sinal levou para chegar à São Paulo, neste caso 33,91
ms. Uma ferramenta acessória ao software permite traçar num mapa um círculo
com centro em São Paulo que fica há 33,91ms de "distância".
Ora, para uma
medida a esta distância, até que a precisão está aceitável. Por outros
estudos sabemos qual o tempo mínimo e o máximo de propagação ao longo do
dia. Daí derivamos qual o modo está ocorrendo naquele instante, ou seja, quais
camadas da ionosfera estamos usando, sua altura, etc.
Agora, vamos
supor que não temos uma tabela com a localização destes chirp sounders. Aqui
então outra aplicação interessante desta ferramenta. G3PLX está em
54.32N/02.84W e PY3CRX/PY2 em 23.47S/46.32W. Pela terceira linha sublinhada
observamos que recebi esta estação "desconhecida" em 250,03653. Já
G3PLX recebeu a mesma estação em 250,01210. Pela experiência já adquirida,
trata-se de uma estação que inicia seu ciclo de 5 minutos a 250ms após as
00:00 UTC. O sinal desta estação leva 36,53ms para chegar em S. Paulo e 12,1ms
até a Inglaterra. Usando a mesma ferramenta de plotagem temos:
Acima podemos
ver o resultado da triangulação. Reduzi o tamanho da figura para caber no
artigo. Porém a seta indica um ponto onde os dois círculos cruzam. Sabemos que
se trata de Chipre. Porém há uma ambigüidade a ser resolvida, entre a Groelândia
e o norte do Canadá. Uma terceira estação é a solução. Usando a medida
realizada por ZL1BPU (37.08S/174E) temos a figura abaixo, novamente editada.
Temos três círculos então.
Bingo! Com as
medidas fornecidas por ZL1BPU resolveu-se o caso. As linhas que ficam a
"X" milisegundos de cada uma das estações estão identificadas.
Murray obteve duas leituras: 250,0572 e 250,081. Isto quer dizer que o tempo de
propagação até a Nova Zelândia foi de 57,2ms pelo short path e 81,0ms pelo
long path. Sabe-se isso pois qualquer sinal que leve mais que 69ms já deu meia
volta no planeta (antípoda). Desta forma, traçamos o círculo de 57,2ms. No
caso do sinal de 81ms, fazemos um rápido cálculo subtraindo de uma volta
completa – 138ms – o valor medido para o long path. (138ms – 81ms = 57ms).
Mesmo que não houvesse sinal pelo short path teríamos resolvido o caso.
Novamente, sabe-se que este último sinal veio pelo long path pois o tempo de
propagação foi maior que 69ms.
Já foram
identificados umas três dezenas de chirp sounders. Os ciclos variam de 300 a
1800 segundos. Nem todos estão referenciados a um GPS. Porém com a quantidade
existente, e com o desenvolvimento do software, podemos ter uma ferramenta que
permitirá pintarmos em um mapa as regiões para onde podemos transmitir, se
pelo short ou long path, em tempo real Ajuda também a observar os efeitos do
chamado grayline e outros fenômenos.
Uma última
curiosidade foi um ensaio realizado pelo Peter em 24.9MHz. Usando uma versão
modificada deste programa, foi possível transmitir e detectar o próprio sinal
depois de 4 voltas no planeta. Com 50 watts.
Participam ou
participaram de alguma fase do projeto as estações G3PLX, KC7WW, ZL1BPU,
DF7YC, EA2BAJ, N6GCE, ON5UQ, PY3CRX.
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(Source: N3KL.ORG)
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