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Dimensões dos cabos coaxiais: tabus e verdades.
" ... e
cabo coaxial tem que ser cortado para a medida "X" se não a antena não
funciona ..."
Bem, uma situação
destas somente revela algumas características do conjunto Radio > Cabo >
Antena. Se para este arranjo somente temos desempenho satisfatório com uma
determinada medida de cabo coaxial, certamente é por que a antena não está
apresentando impedância (ou o valor complexo desta) igual a do cabo.
Idealmente, rádio
/ cabo / antena devem ter a mesma impedância característica. Entretanto,
podemos ter alterações várias na antena, dependente que é da altura, da
qualidade do terra, do comprimento, e assim por diante.
Portanto, se
necessitamos de uma medida específica de cabo coaxial para que as coisas
funcionem ou se ao adicionarmos um medidor de estacionárias ou chave de antena
no caminho e o equipamento não indicar a mesma potência relativa que antes,
pode-se ter certeza que não temos na ponta do cabo a impedância requerida pelo
equipamento usado.
"
... e como resolvo isso ? ... "
Pode não ser fácil.
Vamos adotar um exemplo simples: um dipolo de meia onda e cabo coaxial de 50
ohm.
Idealmente, um
dipolo de meia onda apresentaria uma impedância de 74 ohm se estiver no espaço
livre ou à uma altura muito grande (mais de dois comprimentos de onda, para
efeitos práticos). Na verdade, para compor estes 74 ohm temos duas partes: uma
resistiva e outra reativa.
Diz-se que a
antena está em ressonância quando a parte reativa é igual a zero. Assim o que
sobra é a parte puramente resistiva. É claro, isso em uma única freqüência.
Na medida em
que usamos uma faixa de freqüências dentro da mesma banda, é de se esperar
que a impedância varie ao longo desta. O mesmo em relação à altura de
montagem desta antena. Em 40m, por exemplo, um dipolo no espaço livre. Observar
a tabela abaixo, para 7150 KHz e entendendo que o valor de impedância nominal
para cabos e transceptores é 50 W:
Altura |
R |
X |
ROE |
Conjugado |
Esp.
Livre |
73.7
W |
-j0 |
1,47:1 |
73.7
W |
30m |
71.0
W |
+j12 |
1,51:1 |
72.0
W |
20m |
73.5
W |
-j18 |
1,63:1 |
75.7
W |
10m |
84.7
W |
+j32 |
2.03:1 |
90.5
W |
Aqui podemos ver
que no espaço livre o "j" (reatância, em W)
é zero, ou seja, a antena está em sua ressonância. Porém ao variarmos a
altura, a parte reativa apresenta uma "oscilação" no valor da reatância
(-j=capacitiva e +j=indutiva). O mesmo ocorre para a parte resistiva. O
resultado destas duas variações (resistiva e reativa) é uma impedância variável
conforme a altura. Observar a antena à 10m de altura, onde a ROE passa de 2:1.
Se adotarmos o
"pior caso" da tabela, isto é, antena à 10 metros de altura, veremos
que com determinados comprimentos de cabo coaxial a impedância
"vista" pelo rádio pode ser igual a 50 W.
Neste caso particular, a potência relativa indicada pelo equipamento será a
mesma que teríamos se conectassemos o dito a uma carga não irradiante.
Assim, para uma
outra simulação, na tabela abaixo adotamos a antena à 10m de altura. Teremos
então, para diversos comprimentos de cabo coaxial de 50 W
com fator de
velocidade 0,66 e impedância da antena de 85 + j32, o seguinte:
Altura da
Antena |
Imped
Complexa |
Conjugado
(em W) |
ROE |
10m |
29
+j15 |
32.6 |
1.53:1 |
11m |
35
+j23 |
41.9 |
1.19:1 |
12m |
45
+j31 |
54.6 |
1.09:1 |
13m |
61
+j34 |
69.8 |
1.40:1 |
14m |
81
+j26 |
85.1 |
1.70:1 |
15m |
93
+j17 |
94.5 |
1.89:1 |
16m |
85
-j22 |
87.8 |
1.76:1 |
17m |
65
-j32 |
72.4 |
1.45:1 |
18m |
48
-j31 |
57.1 |
1.14:1 |
19m |
37
-j24 |
44.1 |
1.13:1 |
20m |
31
-j16 |
34.9 |
1.43:1 |
Aqui podemos
observar algumas situações interessantes:
-
Com 12m de
cabo transformamos a impedância complexa original da antena (82 +j32) em 54
W,
o que resultaria numa ROE de 1.09:1.
-
Com 19m de
cabo temos outro ponto que apresenta transformação "útil" pois
a ROE resultante seria de 1.13:1
Porém se
acrescentarmos aos nossos 12m de cabo coaxial apenas 1 metro de cabo entre o rádio
e o medidor de ROE, veremos a mesma indicação (1.09:1). Porém o equipamento
estará vendo uma impedância de quase 70 ohm (13m de cabo, ROE=1.4:1). Valores
nada trágicos, mas mensuráveis.
Se lembrarmos
que muitos equipamentos já começam a entrar em proteção com valores de ROE
acima de 1.5:1, concluiremos que 1 metro a mais de cabo coaxial pode causar
manifestações de toda a ordem. Ao mesmo tempo, os amplificadores
transistorizados têm filtros passa-baixas à sua saída. Estes foram projetados
considerando uma carga resistiva como antena. Então pode-se ter outros efeitos
pois apesar do conjugado da impedância complexa resultar em 50 ohm em alguns
casos, continua existindo uma componente reativa ali.
Até este ponto
não se falou em solução. Considerando que dificilmente encontraremos uma
combinação de altura e comprimento de um dipolo que nos resulte em perfeitos
50 W,
uma solução seria usar cabos coaxiais cortados em múltiplos da chamada meia
onda elétrica.
Esta medida
nada mais é do que meio comprimento da onda no cabo coaxial. O fator de
velocidade é o quanto a velocidade de propagação da onda é menor, quando
comparada à do espaço livre (em %). Desta forma, um cabo coaxial comum tem
fator de velocidade aproximadamente igual a 0.66; já o batizado como
"celular" fica em torno de 0.81. O que se faz então é adotar um múltiplo
da meia onda no espaço livre (150.000/F MHz) e multiplicá-lo pelo fator de
velocidade (0.66 ou 0.81, conforme o tipo de cabo).
Com esta medida
particular de cabo (ou seus múltiplos), transportamos a impedância existente
no ponto de alimentação da antena para a outra extremidade da linha de
transmissão. Se quisermos ter as coisas bem ajustadas, faz-se necessário então
o uso de um "acoplador de antenas".
"
... não quero usar cabos com comprimentos exatos nem acopladores de antena;
quero ajustar a antena para 50 W
J0 ..."
Bem, é possível.
Necessita-se de alguma instrumentação. No mínimo uma ponte de impedância
(tipo RX Noise-Bridge, por exemplo). Estas pontes são fáceis de fabricar e
operar. Circuitos existem em vários Handbooks ou na internet. Sua vantagem
sobre um medidor de ROE, pelo menos para aqueles que usam acopladores de antenas
não automáticos, é que os ajustes destes podem ser feitos sem acionar o
transmissor.
Para os
radiescutas que usam acopladores com três ou mais elementos variáveis, é um
acessório muito interessante para levar a antena usada à ressonância pelo uso
de um sinal constante, e não pela utilização do sinal de uma emissora
qualquer, sujeita ao fading.
O processo é
trabalhoso, principalmente por que não sabemos normalmente qual a característica
do terreno em que estamos. Por mais que se estime por cálculos a impedância de
uma antena, a altura, a condutividade do solo, obstáculos próximos e outras
variáveis, como por exemplo um telhado seco X telhado molhado abaixo da antena
ou quem sabe uma grande árvore com e sem folhas, dependendo da época do ano vão
influenciar o resultado final.
Assim podemos
ter que levantar e abaixar a antena durante várias fases deste processo
"perfeccionista". Ao mesmo tempo, cabo coaxial cortado em múltiplo de
meia onda elétrica é recomendável, para que possamos efetuar as medidas sem
ter que estarmos junto ao ponto de alimentação da mesma.
Se com uma
antena hipotética medirmos 82 + J32, podemos "forçar" a mesma a, em
primeiro lugar, apresentar impedância de 50 +/- J. Ou seja: tratamos de fazer
com que pelo menos a parte resistiva da antena seja igual a impedância característica
do cabo coaxial. Isto pode ser feito alterando-se o comprimento da antena.
Iniciando pela
redução no comprimento total, no caso da freqüência de 7150 KHz, no espaço
livre esta antena teria, para j=0 um comprimento de 20.38m (fio #12). A parte
resistiva seria de 73.7 W.
É a antena "teórica".
Este mesmo
comprimento, montado à 10m de altura sobre um terreno "gramado",
resultaria numa impedância de 85 +j32 (ROE=2.0:1). Mantendo a altura e
alterando o comprimento para 17.1m, teríamos a parte resistiva igual a 50.1 W
(mesmo terreno). Porém a parte reativa passaria a ser de -j238. Isso nos dá
uma ROE de 24:1!
O macete é
cancelar esta componente reativa. Como o valor é negativo, ele revela uma
antena curta. Inconvenientes: menor banda passante. De qualquer forma,
prosseguindo na simulação, descobriremos que para cancelar os -j238
necessitamos de um valor de +j238 que é, no final das contas, uma bobina.
Na freqüência
em questão, a indutância que vai "zerar" esta capacitância será um
indutor com 238 W
de reatância, ou seja: 5.3 mHy
totais, em série com cada fio da antena (2 X 2.65 mHy,
portanto) no ponto de alimentação.
Se quisermos
trabalhar com o sentido oposto, ou seja, antenas mais longas e capacitores em série,
veremos que para a mesma altura haverá outro comprimento que produz 50 ohm na
parte resistiva da impedância. Entretanto, uma avaliação inicial mostra que
para esta freqüência e a altura adotada o próximo valor mais baixo de R,
crescendo o tamanho da antena, ficaria em torno de 80 W,
com uma componente indutiva a ser cancelada bem razoável. Neste sentido não
parece muito interessante crescer a antena pois até encontrarmos outra medida
onde R = 50 W
pode nos levar a uma dimensão não disponível para a maioria dos usuários.
Para
encerrar, um pequeno apanhado de "macetes" ...
-
A
condutividade do solo influencia mais nas freqüências baixas do que nas
altas.
-
Antenas
horizontais são mais suscetíveis à influência do solo / altura do que
antenas verticais.
-
Cabos com
isolantes comuns suportam melhor altas potências. Os ditos celulares têm
tensão de ruptura do dielétrico menor que o primeiro.
-
Fator de
velocidade para cabos comuns = 0.66, celulares = 0.81, fitas de 300 ohm =
0.89 e linhas abertas = 0.98.
-
Em 80 e 40m
se o alcance pretendido é "regional", a antena pode ficar a baixa
altura. Já se a intenção é DX, quanto mais alta, melhor.
-
Antena
horizontais baixas evitam ruído que vem de longa distância (estações DX,
redes de alta tensão distantes). Entretanto estão mais sujeitas a captar
ruídos elétricos domésticos.
-
Antenas
horizontais em cima de edifícios têm influência do terra que é o próprio
prédio, com o concreto, fiação elétrica, estruturas metálicas e etc.
-
O terra
logo abaixo da antena é o realmente importante. É ali que se desenvolvem
as maiores correntes. Desta forma, um terreno cimentado pode prejudicar o
rendimento em freqüências baixas se comparado a um terreno úmido, por
exemplo.
-
Antenas
verticais na maioria da vezes não dão bom resultado para contatos
regionais, principalmente abaixo de 7 MHz. A sua eficiência começa a
aparecer a partir de 1000 Km, aproximadamente.
-
Contatos não
soldados podem gerar ruídos na recepção e harmônicos na transmissão,
principalmente se tivermos dois metais diferentes. Por exemplo: terminal de
latão e elemento irradiante de alumínio. Estes dois metais juntos, na
presença de umidade acabam se transformando em diodo. Proteger após
conectar, portanto.
-
Metais nas
proximidades da antena, com contato pobre entre eles, podem fazer o mesmo
(cercas e telas galvanizadas, calhas de zinco, etc), fazendo uma emissora de
ondas médias nas proximidades aparecer no receptor no dobro ou triplo da
frequência original. E não será um problema na emissora em si. Apenas um
efeito local.
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